domingo, 25 de dezembro de 2016


     Jesus desceu as partes mais baixas da terra?



 Por Gilberto Lima


Porque o credo apostólico diz que jesus desceu ao mundo dos mortos?
 


Credo Apostólico



Creio em Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor,
o qual foi concebido pelo Espírito Santo,
nasceu da virgem Maria,
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu ao mundo dos mortos,
ressuscitou no terceiro dia,
subiu ao céu, e está sentado à direita de Deus Pai, todo-poderoso,
de onde virá para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja cristã, a comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.


As regras de fé não é um uso exclusivo dos pais da igreja e nem da igreja católica, é muito mais antigo que se possa imaginar, assim como nossos princípios são baseados na conduta ética judaico cristã, os credos de muitas igrejas se baseiam neste sistema. Os judeus usavam sua regra de fé escrito em Deuteronômio 6.4-9.


É surpreendente descobrir que a frase “desceu ao inferno” não se encontrava em nenhuma das versões primitivas do credo (nas versões usadas em Roma, no resto da Itália e na África) até que ela apareceu em uma das duas versões de Rufino em 390 d. C. Depois, não foi incluída de novo em nenhuma versão do credo anterior a 650 d. C. Além disso, Rufino a única pessoa a inclui-la antes de 650 d. C., não pensava ¹que essa frase significasse que Cristo desceu ao inferno, mas que foi “sepultado”. Em outras palavras, ele entendia que a frase significava que Cristo “desceu à sepultura”. (A forma grega traz hades, que pode significar apenas “sepultura”, e não geena, “inferno, lugar de punição”.). Devemos também observar que a frase só aparece em uma das duas versões do credo que temos de Rufino, e não foi na forma romana do credo que ele preservou.


O apoio para essa ideia de que Cristo desceu ao inferno encontra-se em cinco passagens: Atos 2.27; Romanos 10.6,7; Efésios 4.8,9; I Pedro 3.18-20; I Pedro 4.6.


Então estudaremos essas passagens:


Em Atos 2.27;



No grande discurso do apostolo Pedro na revista corrigida está escrito; Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu santo veja a corrupção; Em Salmos 16,10 o salmista Davi diz; Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.
Segundo Wayne Grudem a palavra inferno traduzida no novo testamento é hades mas no antigo testamento era sheol, essa interpretação não está falando que Jesus foi ao inferno após sua morte, o apostolo Pedro diz que Jesus não viu corrupção e Davi sim, por isso conclui que a interpretação do texto de Salmos 16.10 e de Atos 2.27 em momento algum fala que Jesus foi ao inferno. A NVI foi feliz ao traduzir esses textos como sepultura e não inferno, aí fica mais fácil de entender, Pedro quer dizer que o corpo de Davi foi decomposto porque ele era corruptível, já o do nosso Senhor Jesus cristo não, ele nunca pecou, seu corpo é (era) incorruptível. Por isso diz; não permitirás que o seu santo veja a corrupção. Fala se isso referindo-se a Jesus Cristo. Então essa passagem de Cristo ressuscitando do túmulo não apoia de forma convincente com a ideia que jesus desceu ao inferno.


Em Romanos 10.6,7;



Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?, Isto é, para trazer a Cristo; ou: Quem descerá do abismo?, Isto é, para levantar a Cristo dentro os mortos. (ARA)
Repare que Paulo faz as duas perguntas retóricas e faz referência a Deuteronômio 30.13 e o que é interessante é o versículo que vem logo depois, seja em Deuteronômio ou Romanos. Novamente podemos ver que não tem ligação nenhuma com descer ao inferno. Esse tipo de pergunta pode haver incredulidade e Paulo logo trata desse assunto. Levantar a cristo dentre os mortos, essa passagem não tem nada a ver, até porque jesus não estava dentre os mortos, pois, quando Paulo disse isso fazia algum tempo que Jesus tinha morrido, se assim interpretar esse texto, posso dizer que meu Senhor não ressuscitou, então não há como interpretar assim como muitos dizem. Paulo estava falando de fé, nos versículos seguintes entenderemos o que o apostolo estava dizendo. Paulo estava dizendo perto ou longe, Jesus estava por perto, e com a boca confessar e no coração crer que Deus ressuscitou dentre os mortos, seriamos salvos. Novamente a passagem não está dizendo que Jesus foi ao inferno ou que está dentre os mortos, pelo contrário usa-se o verbo no passado ressuscitou.


Efésios 4.8-10;



Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas.


Na colocação de Paulo há uma implicação anterior, um oposto de subiu, desceu, passado, sendo assim a NVI explica melhor:
Por isso é que foi dito: “Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativos muitos prisioneiros, e deu dons aos homens”. (Que significa “ele subiu”, senão que também havia descido às profundezas da terra?  O texto fica claro que Paulo está falando de quando Jesus desceu as regiões inferiores da terra estava dizendo de sua encarnação quando nasceu da virgem Maria, e quando subiu acima de todos os céus, isso se refere a ascensão de Jesus quando esteve aqui na terra. E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. ARA efésios 4.7 Quando Paulo diz “nós” ele está falando também dele o qual foi escolhido apostolo fora de época, sim, mas foi o próprio Senhor quem o chamou e essa passagem é tão nítida que não diz nada sobre pregar aos mortos quando desceu as partes inferiores. E o texto prossegue e ele (Jesus) concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres,. Efésios 4.11 Concluímos ainda mais que o propósito de Jesus foi de dar dons aos homens quando ele esteve de corpo presente aqui na terra e também de nos ensinar de uma forma tão maravilhosa o cristianismo. Em filipenses 2. 5-11 entendemos ainda melhor quando Jesus se humilhou, se esvaziou e assumiu a forma de servo. Isso sim é por amor a nós ir até as partes mais baixas da humilhação, deixando seu trono de glória e pregando o seu santo evangelho a vivos mortos no pecado, isso é descer as partes mais baixa da terra.


I Pedro 3.18-20;



Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, (NVI)


Estes versículos são muito mal interpretados, também pudera, não é nada fácil. Mas podemos chegar a conclusões segundo o que a própria bíblia nos diz em outros textos sagrados. Então, vamos lá, se tem um texto na bíblia que parece nos levar a acreditar e muitos tem ido por esses caminhos, assim complicando toda teologia bíblica numa incoerência incrível, quando dizem que Jesus foi no inferno e pregou para os espíritos cativos e também para os crentes do antigo testamento.


Há várias interpretações no campo do cristianismo seja católica ou em outros seguimentos protestantes. Foi jesus realmente ao hades e pregou aos espíritos que estavam em prisões? O que este texto quer dizer? Isso não é novidade, sempre houve debates na história da igreja sobre este assunto. Poucos entenderam o que o texto estava dizendo, apesar do brilhantismo das mentes que debateram este assunto há muitos séculos atrás.
Passarei aqui algumas posições que sobressaíam em suas épocas, como:


Tradição católica:


 No entendimento católico é de que Cristo após sua morte foi ao limbus patrum. Na teologia católica este lugar é pra onde vão os mortos que não são salvos pela graça, mas que não podem ser classificados como pagãos ou mesmo como pecadores réprobos. Este lugar fica nas bordas do inferno e purgatório, todavia, não deve ser confundidos com eles. O limbus patrum não é um lugar de tormentos. Ao qual Cristo ²se refere no texto onde fala do rico e lazaro. O inferno é um lugar de condenação eterna, enquanto, o purgatório é temporário reservados para os cristãos veniais ou os que morreram sem a devida penitencia pelos seus pecados.
 Para a tradução católica os santos do antigo testamento esperavam a descida de Jesus ao hades para a redenção através sacrifício na cruz. Se estendendo por todo hades para manifestação da gloria de Cristo sobre o diabo e condenados e o cumprimento da esperança para os que estavam no purgatório. Essa ideia ganhou muita força no período medieval. Portanto, se essa explicação está correta, Jesus desceria somente a um compartimento do hades pregando somente aos bons e não aos ímpios.



Visão arminiana


Diferente das visões católica, luterana, anglicana e reformada, os arminianos vão além, que Cristo, afirmam eles, pregou aos mortos em geral e não somente aos bons como dizem anglicanos e católicos, esse ultimo a diferença está no purgatório.
Os arminianos afirmam que cristo pregou no hades dando oportunidade aqueles que nunca ouviram a pregação e entendem que pregou aos “espíritos em prisões” são essas pessoas. Essa ideia é equivocada do texto de I Pedro 3.18-20. A dificuldade disso tudo é que os santos do antigo testamento já havia sidos justificados (Rm 4.3 Gl. 3.6-9), o que torna desnecessária essa evangelização.    


Visão reformada


A visão reformada nas ideia de Calvino transmitidas em alguns seguimentos na Inglaterra na época do rei Eduardo VI, através dos ensinos do bispo anglicano John Hooper que assim comentou sobre cláusula da descida ao inferno do credo apostólico por volta de 1549. Que assim diz; “Eu creio que enquanto estava sobre a dita cruz, morrendo e entregando seu espirito a Deus seu pai, ele desceu ao inferno; Isso quer dizer que provou verdadeiramente e sentiu a grande aflição e peso da morte e igualmente as dores e tormentos no inferno, o que quer dizer a grande ira de Deus e o seu severo julgamento sobre si, até ter sido totalmente esquecido por Deus... Este é simplesmente meu entendimento de Cristo e sua descida ao inferno”. A tradição reformada entende assim com poucas variações em sua teologia.


Entendendo o texto de I Pedro 3.18-20


A verdade que esse texto não está dizendo que jesus foi ao inferno pregar, e isso não é afirmado em nenhuma parte das escritura, até porque se isso fosse verdade entraríamos em contradição com a própria bíblia, em Lucas 16. 26 diz; E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E também em hebreus 10.26,27 diz; Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus.


Como acabamos de ler, a bíblia não nos afirma uma segunda chance como pensam os arminianos, católicos, anglicanos e outras correntes que assim pensam. Repare que o contexto diz sobre a época do diluvio, se assim fosse os arminianos estariam entrando em contradição consigo mesmo, porque se a salvação é pra todos em geral assim como eles afirmam, não faz sentido aplicar esse texto de I Pedro 3.18-20 sendo que o texto estaria destinado somente ao um grupo de pessoas.


Fica bem claro nos versículos 14 e 16 do capitulo 3 de I Pedro que o escritor desta carta encoraja seus leitores a serem perseverantes e longânimos. Que assim como as forças eram hostis demoníacas na época da pregação pre diluviana, o apostolo encoraja seus leitores as forças hostis das pessoas que eram contrarias a pregação do evangelho e que assim como oito pessoas foram salvas no diluvio, seus leitores deveriam confiar que Jesus Cristo os redimiriam também através de sua volta.


No qual foi também e pregou aos espíritos em prisões há várias linhas de pensamento, uns dizem que esse espíritos em prisões foram os anjos que pecaram enquanto a arca era construída, e não era uma pregação e sim a sentença de condenação, mas não há respaldo bíblico para isso. Outros dizem que esses espíritos eram dos santos do antigo testamento, se eram dos santos, não haveria essa possibilidade de pregação, porque eles estavam salvos. Wayne Grudem em seu livro teologia sistemática (pagina 493) diz; a bíblia não nos dá indício claro que nos faz pensar que os crentes do antigo testamento quando morriam não tinham acesso as bênçãos de estar na presença de Deus no céu – aliás, algumas passagens dão a entender que os crentes que morreram antes da morte de Cristo entraram, na presença de Deus de imediato, porque seus pecados foram perdoados pela confiança no messias que viria (Gn 5.24; II Sm 12.23; Sl 16,11; 17, 15; 23, 6; Ec 12.7; Mt 22. 31-32; Lc 16. 22; Rm 4. 1-8; Hb 11.5).


Já os arminianos afirmam que a pregação era pra todos os que viveram antes de Jesus ter morrido, sendo assim e se essas pessoas estão no inferno em um lugar de condenação não faz sentido jesus ir lá pregar e eles não se converterem. Quem não aceitaria uma situação de escape para viver em outro lugar melhor? Não faz sentido esse argumento, se não cairemos em um universalismo, não passando de um teatro, não precisaria Cristo ter morrido para o nosso resgate, não faria sentido a bíblia falar dos escolhidos de Deus.


A explicação melhor para esse versículo está na maneira que a bíblia diz que Jesus Cristo antes mesmo da fundação do mundo foi imolado, sendo que ele foi sacrificado muito tempo depois do mundo ser criado. No antigo testamento todos sabemos que o Espirito estava sob os santos, mas ele agia mesmo que de uma forma exterior, de fora para dentro, ao contrário de hoje, de dentro para fora. Quando Noé pregava era o próprio jesus falando em sua boca, era o próprio Espirito pregando aquelas pessoas corrompidas. Um indício muito forte pra isso está em I Pedro 1.11 Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Isso prova que o Espirito de cristo falava aos profetas do antigo testamento.


I Pedro 4.5,6
Contudo, eles terão que prestar contas àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos.
Por isso mesmo o evangelho foi pregado também a mortos, para que eles, mesmo julgados no corpo segundo os homens, vivam pelo Espírito segundo Deus. (NVI)
Mas terão de dar contas ao juiz de todos, dos vivos e dos mortos.
Por isso as boas novas foram pregadas até mesmo aos que morreram, para que, ainda que os seus corpos tivessem recebido a sentença da morte, como toda a gente, os seus espíritos vivessem segundo o juízo de Deus. (O livro)



Duas traduções diferentes, a primeira da NVI diz foi pregado o evangelho a mortos, a segunda diz que foi pregado aos que morreram, essa última é mais aplausível inclusive mais que muitas tradições em que estamos acostumados a ver. Porque ela é mais aplausível? Porque a própria bíblia não nos dar margem nenhuma para isso, se isso fosse de fato entraríamos em contradição de Hebreus 9.27,28 que diz; Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam. Esta passagem nos mostra claramente que não há segunda chance como muitos dizem, o homem morre uma só vez e depois disso vem o juízo e do mesmo jeito Cristo foi oferecido uma única vez seu sacrifício para tirar o pecado de muitos, não de todos como ensinam os arminianos, mas para trazer salvação aos que o aguardam, portanto que se conclui que os corpos dos santos ainda estão dormindo, mas o espirito de imediato sobe a Deus, mais tarde quando o Senhor Jesus voltar o espirito se juntará com o corpo que está dormindo.


É por isso que Cristo é o mediador de um novo pacto; porque tendo morrido para libertar as pessoas da culpa dos pecados, até os cometidos sob a primeira aliança, faz agora com que todos aqueles que são chamados possam entrar na posse dos bens eternos que lhes foram prometidos. (Hebreus 9.15) Este versículo deixa claro que Cristo não foi ao inferno pregar para os da velha aliança, por isso o sacrifício valeu de uma vez por todas sem necessidade de pregar aos mortos, pois, diz; porque tendo morrido para libertar as pessoas da culpa dos pecados, até os cometidos sob a primeira aliança,... 


Respondendo à pergunta se jesus desceu ao hades para pregar, isso não é verdade. Não quer dizer que um erro antigo possa se perpetuar em nossos dias, assim como ainda existem pessoas que acreditam que jesus morreu para pagar algo ao diabo, isso é mentira, o diabo não tem que preitear nada, porque o Deus tem todo o poder no céu assim como na terra, antes, o Senhor Jesus Cristo morreu para aplacar a
 própria ira do pai, porque o pai em sua infinita santidade não suporta os nossos pecados, mas o sacrifício de Jesus nos trouxe graça e Deus assim virou o seu rosto sobre nós e nos fez filhos juntamente com seu filho.




 ¹ Wayne Grudem, teologia sistemática pagina 489

² Heber Carlos de Campos, arquivo em pdf